O algoritmo da vitória: lições emocionais

“Não sei se já foi lançado”, disse o americano. “No momento, estou apenas … é um ano muito difícil. É muito difícil. Conseguir os resultados aqui … realmente combinou, então estou feliz.” No palco, Caleb Dressel foi visto com a mão acima do coração e os olhos se enchendo de lágrimas. Eu nunca tinha visto tamanha vulnerabilidade sendo demonstrada por um americano. Antes de chorar no pódio ele desabou também ao ver a família e chorou copiosamente na zona mista, na entrevista para imprensa e o mundo.

A americana Simone Biles, ginasta superstar que abandonou as competições individuais e em equipe nos Jogos de Tóquio, se dirigiu a seus fãs no Twitter para agradecê-los pelo apoio. Na última quarta-feira, ela anunciou que não iria competir nas provas individuais “PARA SE CONCENTRAR NA SAÚDE MENTAL”. O mundo veio em cima dela com uma avalanche de críticas. Não são todos que entenderam essa “desistência”, essa “pressão”. Alguns questionamentos levantados: e o restante da Equipe? E os EUA? Por que não pediu para sair antes das Olimpíadas?

Nossa nadadora Brasileira mais vitoriosa da natação feminina, Etiene Medeiros encerrou sua participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio, sendo apenas 29ª colocada nos 50m livre, prova na qual foi finalista na Rio-2016. O que todos não sabem é que existe uma explicação para esse resultado ruim: ela veio ao Japão com uma lesão no joelho direito, no ligamento cruzado anterior. Ainda não está definido se ela será submetida a cirurgia na volta ao Brasil.

Não sei se já ouviram sobre a palavra “coping”. Com a competitividade elevada e o nivelamento nos treinamentos físico e tático, as estratégias de “coping” (enfrentamento) para superar essas perturbações podem fazer a diferença entre um elenco campeão ou perdedor. A questão é: treinamos essa parte emocional, tanto quanto a física durante a preparação para tal enfrentamento?

Os atletas precisam enfrentar-se o tempo todo, seja acordando cedo, dormindo cedo, alimentação, sono, torcida, competir, subir no bloco, enfrentarem suas redes sociais (cyberbullying), seus pais, sua comunidade, seu País. Alguns deles, como citado acima, levam uma nação nas costas.

Outro termo muito utilizado no Esporte é o “Burnout”, mais conhecido como síndrome do abandono. Eu mesmo já tive enquanto atleta, você fica cansado, fadigado, não aguenta com a pressão dos treinos e muito menos da competição, tudo isso como consequência ou manifestação de um estresse excessivo e crônico. A queda de rendimento pode ser um sinal de que o atleta está sendo vítima da síndrome em sua fase inicial e isso agrava ainda mais a pressão sobre o mesmo.

Portanto, ser atleta é “ser” humano, é um “ser” especial que requer atenção, carinho e amizade. Segundo o coach do vôlei José Roberto Guimarães “ a coisa que mais preocupa é a perda de foco”.

Esse jogo mental é de suma relevância e a grande maioria dos Técnicos e muito menos os cidadãos que acompanham os Jogos no aconchego do seu lar (muitos não conseguem nem descer um lance de escada do próprio prédio, pois entrariam em “over training”) não levam isso em conta!

Sentir-se pressionado, é a coisa mais comum para esses atletas. Porém, sentir-se preocupado e angustiado, seja pela torcida, pelo coach, pelo grupo, rouba energia espiritual de qualquer um – é quando o peso fica excessivo para o atleta. Vale relembrar um episódio aqui, Charles “Karch” Kiraly, jogador do time que derrotou o Brasil em Los Angeles, comentou o seguinte: “NADA MELHOR DO QUE JOGAR CONTRA OS BRASILEIROS QUANDO SÃO FAVORITOS. TENHO A IMPRESSÃO DE QUE O PESO DE TODA A NAÇÃO ESTÁ SOBRE AS COSTAS DOS JOGADORES. NOS ESTADOS UNIDOS É DIFERENTE…UMA MEDALHA A MAIS OU A MENOS NÃO FAZ DIFERENÇA”.

Tostão (titular da seleção brasileira em 1970), escreveu na Folha de S. Paulo algo parecido. “UMA DAS RAZÕES PARA ESSA INSEGURANÇA PSICOLÓGICA DOS JOGADORES BRASILEIROS SERIA A ENORME PRESSÃO QUE SOFREM PARA GANHAR, MUITO MAIOR QUE A DOS EUROPEUS, COMO SE OS BRASILEIROS FOSSEMPARA UMA GUERRA. É GANHA OU MORRER.” (SALIBI NETO; GOMES, 2020)

Fiquei preocupado durante esses Jogos Olímpicos de Tóquio, se os norte-americanos, sinônimos de frieza e controle emocional, não estão suportando tamanha pressão, imaginem os nossos “canarinhos”, com quase nenhum preparo sobre questões da “amigdala emocional” tão importante a ser controlada durante essas situações de estresse.

Será o efeito pandemia, que deixou as pessoas mais humanizadas? Mais vulneráveis? Tudo teve um gosto mais saboroso nas vitórias? E qual o problema de desistir? Os patrocinadores? A parte material? E o Ser Humano onde fica nisso tudo?

Professor Dr. Caio Gracco

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